Quando Fernando Pessoa, por seu heterônimo Álvaro de Campos, impulsionava a transição da apatia para o fervor da modernidade, cultua em sua poesia futurista a máquina, a velocidade, a agressividade e a energia da vida moderna.
Hoje, no Brasil, a máquina, a velocidade, a energia que impulsiona a vida nos centros urbanos e rodovias brasileiras, são fontes de agressividade e conflitos, culminando com mortes e severos danos a vidas humanas. Será a culpa das máquinas, com seus potentes motores? Ou os homens transgridem, dia a dia, as diretrizes para uma sociedade moderna e segura?
Ano após ano, o trânsito no Brasil vem ceifando vidas e sendo força motriz para uma legião de homens com sequelas graves, que os incapacitam para o dinamismo da vida moderna, gerando conflitos internos e externos.
A triste estatística, que transforma pessoas em números, sem avaliar sentimentos e dor, precisa ser analisada pelo ângulo humanitário. O que representam, para cada um de nós, 47 mil óbitos por ano e 400 mil sequelados, vítimas de acidentes de trânsito? Simples números? Cruzes de estradas? Sequelados que se aglomeram em hospitais, centros de reabilitação, em busca de viver e não apenas passar o tempo até o processo final?
Lanço aqui um ultimatum ao poder público constituído, à sociedade civil, a darmos as mãos, unirmos ideias e sairmos da inércia, para evitar o contínuo empilhamento de cadáveres nos institutos legais país afora. Reduzir os danos causados a tantas vidas, dores e sofrimentos a inúmeras famílias, antes que o fenômeno se instale em nosso seio familiar, pois o olhar à distância parece normal e “a única dor suportável é a dos outros”.
A legislação do trânsito brasileiro versa sobre a municipalização do trânsito, mas observamos a comodidade dos gestores em realizar a sua implantação. Sem a municipalização — que é lei — a gestão municipal carrega a responsabilidade de diminuir o caos instalado. Vamos ampliar o olhar, integrar órgãos e a sociedade civil em prol de nosso bem maior: a Vida.
Conclamo à luta pela vida no trânsito, tornando-o seguro, com medidas inovadoras para mitigar impactos nas vias urbanas e rurais, educação aos homens que adentram o espaço público, tendo a consciência de que ele pertence a todos, e obediência ao Código de Trânsito.
A municipalização do trânsito é um passo essencial para mudanças e força motriz para diminuir a agressividade e impulsionar o compromisso com a vida. “Viver é preciso.”
Benjamim Pessoa Vale, médico, MBA em Gestão, Empreendedor Social
Setembro/2025